SANTO ANTONIO-PROTETOR DOS POBRES

- Meu santo me dá licença, me falaram que sua festa ta chegano? Mas de novo? Eu tive esse ano memo na sua festa, com barraca e quermesse em pleno mês de abril.
Ah, não, agora me alembrei. Não era a sua festa não, foi na páscoa , sexta-feira, na mais santa das semanas, é que o povo daqui, os guaratinguetaenses inventam quermesse até na sexta-feira da paixão de nosso Senhor, povo simples, cheio de amor, se reúne com fervor e muito louvor.
Ah, me descurpe falá, mas tava animada que só. Andei por lá mendigando, mas ninguém dá nada não. Alimento inté que dão, mas dinheiro que é bão pra gente tomar uns gole e afogá as magoa ninguém qué dá não.
Mas o que o santinho tem com isso , não é memo, se é padroeiro das sorterona? Tem muito casamento a fazê. E olha que aqui tem sorterona pra dá e vendê. Mas ovi dize tamém que o santo é padroero dos pobre feito eu.
É verdade? Padroeiro? Da gente assim feito eu, que não tem um vintém no borso, onde morá tamém nun tem, que chora às veiz sozinho, sozinho feito um João ninguém?
Me descurpe meu santinho esse jeito de falá, é que eu sempre fui pobre, num tive como estudá e meu pai era minero , porisso esse meu jeito de me expressá, mas sei que o sinhô tamém foi pobre e simples de admirá.
É porisso o santo tem esse nome Antonio. Conheço muito amigo meu, mendigo que nem eu que tem nome de Antonio.
Diz que aqui na catedrar tem uma tal de adoração, que a gente fica queto oiando Jesus com muita veneração e que quando sai daqui tem grande transformação. O meu santo acha que eu em meus amigos mendigante até de pão, temo jeito de mudar , de te transformação? Tem amigo tão doente, com os pé que é calo só, otros mais comoventes, tem AIDS e toma mé, a gente fuma e bebe, uma vida de dá dó, como é que a gente pode conseguir ficar mió?
Sabe meu santo que ovi um dia aqui na catedrar, lá de fora, que me sinto indigno de entrá muitas veiz, pra mode nun incomodá a gente educada com meu chero de banho veiz em veiz, ovi dizê que na missa acuntece milagre, que inté cura tem, isso eu ovi da boca dum padre uma veiz.
Será verdade então? E eu aqui tão suzinho, sem nada pelo caminho, vivendo vida de mendigo?
Olha, meu santo que já vou ino, ta chegano a gente pra trezena, demorei a decorá, mas agora sei falá. È a trezena me disse uma senhorinha dessas já conhecida da gente, que mora aqui pertinho, que mesmo com as perna fraquinha, ino de manhã na padaria, óia pra gente e ri, compra um pãozinho fresquinho e estende pra todos um bocado; ai, como é bom encontrá gente assim, de coração caridoso, inté choro e agradeço ao Pai que é pai de todos nóis iguar, que não julga esse ou aquele mior.
Mas meu santo, é pouca gente que chega, inda dá tempo pra se fala, depois saio depressinha pela porta laterar e fico esperando lá fora a missa terminar, lá tem barraquinha que só, um chero de atasanar e hora que todos saem pra mode a festa espiá, a gente se esconde ali perto que é pra num atrapaiá. Tem um amigo meu, de gogó bom pra daná, que quando começa a música, dá um jeito de achegá e ousa elevar a voz pra um hino em seu louvor, tem uma voiz tão linda que dá inté vontade de chorá, e eu fico escuitano toda noite ele cantá, parece afogar as mágoa com as música do altar e aí, sim eu rezo, peço pra Deus abençoar a toda essa gente da cidade de Guará, que aqui haja sossego, muita Paz e muito amor e que gente como nóis, memo seno sofredor possa ser gente honesta, confiar no meu senhor.