AMAR, mais que amar!

É com certeza muito mais sublime amar.É uma escolha nossa. Somos nos que decidimos amar, triste se ao invés de darmos nossa parcela de felicidade para as pessoas ficarmos esperando que elas nos amem, nos entendam, nos procurem, sorriam pra nós. Se voce partilha desta verdade, se voce vê estrelas demais; então este blog é pra voce.

Quem sou eu

Minha foto
É um pseudônimo, mas sou eu mesma, porque fala de mim como escritora, amante da arte em todas as sus manifestações, fala de personagens como O Vagabundo de Charles Chaplin que pra mim demonstram a realidade deste mundo, a busca da ternura , ao mesmo tempo a tirania da máquina. Fala de afetividade, sentimento tão esquecido ultimamente, mas tão motivadora pra vida. Sou eu, um pouco de meus amigos, muito de meus familiares. Somos nós.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

TRIBUTO DE AMOR

Nesta vida chegamos devagar, embora achemos que tudo acontece de uma hora pra outra, quando a mulher descobre que está grávida e começa toda uma correria pra chegada da nova vida, às vezes esperada e muitas vezes inesperada e até indesejada devido a circunstâncias de instabilidade familiar, de ordem financeira, etc.
Quando compreendemos, porém, a vida no âmbito espiritual, e mesmo fisiológico, percebemos que embora rapidamente a fecundação ocorra, as células se multipliquem, no grande milagre da vida, pela perfeição e inteligência fenomenal com que tudo é feito, a vida acontece devagar, de modo pensado, assumido e indecifravelmente comovente.
É inevitável que neste momento em que meu querido pai de 92 anos, quase 93 nos deixou, eu tenha em minha mente, coração e todo o meu ser as lembranças dele e de seu exemplo de vida pra nós e todos os que o conheceram.
Homem simples, desprovido desde o nascimento de bens materiais, homem, do campo, campo de flores que pra mim significam tanto, com um currículo à sua maneira simples, mas rico de experiências: retireiro, vaqueiro, carvoeiro, tropeiro, ajudante de caminhão, quanta experiência de vida nas fazendas em que trabalhou, desde os oito anos de idade, quando o pai dele antes de falecer, o chamou no quarto e lhe entregou a família pra ele cuidar com mais quatro irmãos menores. Ele que já trabalhava com o pai na fazenda, mas recebia como ajudante para cuidar dos pés de café passou a trabalhar como homem, como ele contava, pra sustentar a família e por insistência do filho do patrão começou também a receber como homem.
Sua obediência aos pais, seu compromisso desde sempre exigido, toda a sua resposta afirmativa a esta missão de vida foi, acredito o que lhe rendeu a longevidade.
Mas pra quem viveu neste mundo desde 1918, acompanhando a história do Brasil através do rádio, racionalizando e participando ativamente da vida do país como ele e minha mãe, passando de um tempo em que a formação e educação familiar não permitiam sequer um filho levantar os olhos perante o pai, ou comparecer à sala quando a família recebia uma visita, do tempo em que, por favor, com licença e bom dia eram ditos com tanta veemência a quem quer que fosse e ajudar uma pessoa idosa era como um prêmio, deparar-se, quase que de repente com a nossa vida atual, a modernidade do computador que meu pai praticamente não entendeu tecnicamente, mas conseguiu com certeza perceber a diminuição da comunicação interpessoal, um homem que tendo somente o 2º. Ano primário fazia contas de cabeça em segundos, entender que hoje se usa em sala de aula calculadora e não se sabe tabuada.
Um contador de causos como nunca vi, um profissional na arte de contar histórias e todas verídicas, da sua vida sofrida, simples, mas povoada de tantos acontecimentos interessantes e significativos, da vida, da luta, da morte, das injustiças vividas por sua família desde o coronelismo, das ditaduras sofridas por ele e sua família, da revolução constitucionalista que ele presenciou ajudando os dois lados a carregar armamentos para o local do combate, por obrigatoriedade do patrão o qual fazia a política encima do muro, agradando a todos para tirar vantagens. Fiel testemunha de alegrias e tristezas, das rezas de Santa Cruz, dos terços que antecediam os bailes na roça e dos bailes que ele não perdia; dos toques suaves no violão com o cunhado Geraldo de Paiva Branco, aos acordes no cavaquinho e da sanfona que ele arranhava nos encontros familiares, das notas que ele, com ouvido apuradíssimo sabia decifrar.
Se existisse, naquele tempo de sua mocidade profissão rentável de “conhecedor de carro de boi” meu pai teria se tornado milionário, pois ele descrevia com tamanha precisão e competência cada encaixe, das rodas, à montagem do corpo do carro, do significado e intenção de cada engrenagem, dos sinais e comunicação, esta sim inter pessoal, que o condutor do carro de boi tinha que ter com os bois para que tudo saísse a contento.
Exímio em cuidar da saúde, sem vícios, sempre na busca de harmonia nos relacionamentos, da honestidade que possibilita o sono tranqüilo que refaz o corpo, da fé prática no anjo da guarda, no amor incontestável à Virgem Maria, fé provada em situações do dia a dia.
Nem a dor da perda do primeiro filho aos seis anos de idade, das perdas subseqüentes de família, dos irmãos, mãe foram capazes de lhe tirar a esperança de contribuir com a vida, com seu município, com os mais velhos na época em que sentia-se cansado pelo trabalho contínuo no pesado, como na Central do Brasil, onde se aposentou por invalidez. Com vista comprometida por uma lesão desde o casamento em 1936, enxergou a vida sempre pela luz da fé e da coragem pedida a Deus. Pra ele era pedir e dar um passo na fé em seguida, como ele fez, ciente na proteção do anjo da guarda, nunca sofreu cirurgia e primeira vez que foi internado no hospital uma passagem de um dia por ferimento em 1982 e depois aos 92 anos.
Os netos foram pra ele o poço de água límpida em meio ao deserto de dor, quando da morte de minha mãe em 1990, e a vinda de cada um, devagar e tão intensamente o fizeram remoçar, renascer. De avô a babá, de provedor a formador, de instrutor a disciplinador, o que ficou com certeza guardado como tesouro nos corações foi o amor de um avô comprometido com a vida, com a qualidade de vida, instigando-os a serem honestos e respeitosos para com todos.
Uma história tão longa só pode ser resumida com o coração e este resumo, o faço não só por amor a meu pai, mas com a intenção de levar a reflexão todos os leitores, para que nos dediquemos amar mais, a compreender mais com o coração as gerações passadas, a abraçar mais nossos queridos para que ao irem eles encontrarem-se com a nova realidade que transpassa a morte, o façam de coração aberto e o sofrimento seja ultrapassado pela grandeza e simplicidade de uma vida vivida com amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ongs