Quando criança, em terras alheias de extrema beleza, campos floridos, perfeita natureza, ao pé da serra da Mantiqueira, eu, simples criança, uma pobre menina, já buscava lá no íntimo de minha alma perscrutar sentimentos nobres, sonhos nascentes.
E assim, creio eu, nasceu a arte dentro do meu Eu interior derramando-se em alegres momentos, coisa pouca, mas profunda em sentimento e me vi , de repente sonhando com o futuro, com o céu.
À Noite, de soslaio, pela janela, um quadrado serrado na alvenaria, que mesmo cerrada, à noite me permitia visualizar estrelas e fazia uma prece à mais reluzente, para que me ajudasse a crescer, gente honesta, doce e persistente, prece que hoje meu coração entende, e desde então me aconselhava a lutar pela vida, dura, sofrida que teria pela frente.
De manhã, acorria à beira do rio, a sondar algum peixinho, ao redor a grama verde e o filete de água escorrendo entre as mãozinhas ávidas de curiosidade. Ao longe o gado; e eu podia perceber nitidamente a vaca malhada que me dava o leite, propriedade exclusiva que me fornecera o patrão/padrinho pois eu me pusera doente e precisava repor energias.
Energia era o que faltava também à minha mãe, mas não a meu pai, forte muralha, sábio, lutador, sem muitos sonhos, mas disso se encarregava minha mãe. Ela sonhava e o empurrava para frente. –Vamos Vicente, dizia.As meninas crescem, a educação aqui é difícil. Temos que comprar uma casinha e a máquina de costura pra melhorar a vida, a cidade nos espera.
Eu, hoje percebo, em minha criancice sonhadora, não queria deixar aquele lugar tão lindo, queria agarrar-me, se possível fosse à estrelinha tão brilhante que me inspirava todas as noites, às fontes límpidas, às frutas e campos de flores, mas era preciso, dizia minha mãe tocar em frente a vida.. Viemos rumo à cidade lugar sem graça, com campos sem flores, sem gado, descolorido, onde a pobreza, por falta de cenário se acentuava mais ainda e a vista dos rios, que antes estavam a dois passos, e era possível colocar os pés na água límpida e relaxar, agora significavam caminhada a de um quilômetro, de baldes pesados para carregar, de tombos, cansaço para repor a água, tão necessária, e tão escassa ali naquele lugar.
Do lugar de minha infância trouxéramos o berço, presente de minha madrinha e que servia-nos agora de balanço, a mim e minha irmã, ano e mês mais velha. As roupas de nosso tempo de bebê que ainda guardava minha mãe, quem sabe para mais um filho na pré-menopausa,minha roupa de batizado, rosa Pink com rosa bebê, a mais rica que tivera, toda de tule, cetim, bordados, presente único de meu padrinho que na flor da juventude me batizara e desde seu casamento poucos meses depois me esquecera.
Após tantos anos, eu que desde sempre tivera a impressão de que um dia pintaria um quadro, estou agora diante de uma tela, que parece-me olhar inquieta, ao mesmo tempo tranqüila, ciente dos traços que devo imprimir-lhe a qualquer momento.
Desajeitada, pego o pincel tremulamente, traço um azul, um verde e um marrom, primariamente demarcando céu, campos, rios e terra. Pouco a pouco, numa pincelada e outra vão surgindo como que num processo de magia, o céu cintilado de anil da serra de minha infância, os campos floridos, o rio, a ponte, as flores multicores como barcos no leito.Minha mente dita-me as lembranças mais doces do lugar onde nasci enquanto tento imprimi-las com força para que fiquem pra sempre, pra que não fujam mais de mim as mais doces imagens, Pronto o quadro, eu o intitulo de Rio das Flores e entendo porque gosto tanto de flores, porque me é especial a Primavera..São imagens, na verdade gravadas profundamente, testemunhas de uma vida simples e feliz.
AMAR, mais que amar!
É com certeza muito mais sublime amar.É uma escolha nossa. Somos nos que decidimos amar, triste se ao invés de darmos nossa parcela de felicidade para as pessoas ficarmos esperando que elas nos amem, nos entendam, nos procurem, sorriam pra nós. Se voce partilha desta verdade, se voce vê estrelas demais; então este blog é pra voce.
Quem sou eu
- Charpèry
- É um pseudônimo, mas sou eu mesma, porque fala de mim como escritora, amante da arte em todas as sus manifestações, fala de personagens como O Vagabundo de Charles Chaplin que pra mim demonstram a realidade deste mundo, a busca da ternura , ao mesmo tempo a tirania da máquina. Fala de afetividade, sentimento tão esquecido ultimamente, mas tão motivadora pra vida. Sou eu, um pouco de meus amigos, muito de meus familiares. Somos nós.
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