Há exatos quatro anos, diagnosticado um problema genético em meu coração, eu saía de uma cirurgia, a princípio julgada pelos médicos como de média periculosidade, mas que por outros problemas genéticos então desconhecidos, durou mais que o tempo de costume e acabou tornando-se inédita. Após doze horas, tendo já tomado duas doses de anestesia, pois não descobriam um jeito de fazer a cirurgia de forma convencional, finalmente levavam-me por um corredor, que a princípio,eu julgava ser o quarto onde passara doze dias me preparando para tal evento.
Mas, de repente, um letreiro acendeu-se diante de meus olhos e eu perguntei aos enfermeiros que me conduziam:- Eu não vou pro quarto, eu vou entrar aí? Era a porta larga e tão temida da UTI. Eles me disseram que era para me recuperar mais rápido, mais minhas suspeitas confirmaram-se ao deparar-me de repente toda ligada em aparelhos que mediam o fluxo sanguíneo de meu corpo, e registravam os batimentos cardíacos todo o tempo.
Luzes acesas, cinco profissionais passaram a noite em frente à minha cama, em alerta. Eu, por temor não consegui fechar os olhos, piscava às vezes, e assim a primeira noite passou. O que mais me incomodava era ouvir por causa dos aparelhos, as batidas do meu coração acelerado pela taquicardia. Mais tarde fui descobrir que eu era naquela noite protagonista de um estudo de caso, cirurgia inédita, cobaia ou coisa parecida.
Tão logo amanheceu o que para mim me pareceu uma eternidade, descobri que ainda estava viva e pus-me a cantar uma música conhecida que falava do amor de Deus por mim. Deus cuida de mim, mesmo que eu não perceba, mesmo que eu não mereça. Cantava baixinho e de repente descobri que já era perto das dez horas e eu ainda não havia tomado café. Então chamei uma enfermeira e lhe perguntei: Eu não vou tomar café? Ela sorriu e correu a anunciar aos outros que eu queria café, a perguntar ao médico se eu podia tomar café, ao que ele respondeu que sim. Eu estava salva, o perigo havia passado.
Fui a única ali a de me deliciar com meu café, após um banho caprichado de panos e sabões ali mesmo no leito. Muitos leitos ali na UTI, pacientes gemiam, chamavam as enfermeiras, pediam um gole de água pelo amor de Deus e eu orava por eles e dizia aos enfermeiros que podiam cuidar de mim depois, que dessem preferência aos que mais precisavam. Eles agradeciam e obedeciam.
Sentia-me renascer, era como meu primeiro dia de vida, passei mais dois dias ali, agradecendo a Deus, assumindo minha missão de intercessora e quando o médico, no terceiro dia, foi me dar alta, o fez aos prantos. Eu o agradecia, mas ele continuava a assinar os papéis e preencher as receitas chorando e me dizia que tudo o que estava acontecendo era por causa de mim, mas eu sabia que era por causa de Deus e das pessoas que cuidavam de mim com seu carinho, por causa dele, médico e de toda a equipe que crera na minha recuperação e do Dr. Eduardo que ousara fazer um procedimento inédito, ao invés de voltar comigo para o quarto sem a intervenção cirúrgica.
Eu estava ressuscitando, literalmente.
Acordei hoje com este sentimento de renovado agradecimento a DEUS, á VIDA. Partilho com você, leitor esta experiência, trazendo à reflexão esta realidade de a vida sempre nos surpreender, até com coisas negativas, às vezes, como pra mim os letreiros da UTI. Foi ali que aprendi que é preciso viver um dia de cada vez e amar por toda a vida. Acredito hoje que tudo pode ser revertido, que é possível recomeçar, enfrentar e sair mais forte de cada luta, de cada dificuldade.
Charpèry
AMAR, mais que amar!
É com certeza muito mais sublime amar.É uma escolha nossa. Somos nos que decidimos amar, triste se ao invés de darmos nossa parcela de felicidade para as pessoas ficarmos esperando que elas nos amem, nos entendam, nos procurem, sorriam pra nós. Se voce partilha desta verdade, se voce vê estrelas demais; então este blog é pra voce.
Quem sou eu
- Charpèry
- É um pseudônimo, mas sou eu mesma, porque fala de mim como escritora, amante da arte em todas as sus manifestações, fala de personagens como O Vagabundo de Charles Chaplin que pra mim demonstram a realidade deste mundo, a busca da ternura , ao mesmo tempo a tirania da máquina. Fala de afetividade, sentimento tão esquecido ultimamente, mas tão motivadora pra vida. Sou eu, um pouco de meus amigos, muito de meus familiares. Somos nós.
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